Paulo de Carvalho lê: S.O.S de Lara Amaral

S.O.S.
Morre-se quando toca e não alcança. Ou quando alcança e não estremece o outro. Isso quando se toca (o que está ao meu alcance?). Sabe-se, tem-se o conhecimento da causa, mas não desenvolve a habilidade de alcançar. Houve o doar-se por inteiro, a penetração de todos os olhares: os vibrantes, os de serenidade, os de pedido, não, os de súplica mesmo, os de abandono... Houve-se tudo (me escuta?). Qualquer coisa que seja vida, qualquer que signifique amor. Se tudo isso o que é seu, tão seu, tão próprio, tão cheio, não tocou, você está morto. Não para o outro, para o outro você é nada (nadas aqui dentro... ouves o mergulho oco da pedra-estaca, procurando-te, tão insegura de si?). E quando se morre para si mesmo, esta morte morrida (matada?), engole-se o viveiro em torno, nada em volta tem canto, almas-pássaro debatem-se em retirada ao interior recôndito, mudas. Isso é morrer dentro de si, e nem precisar se matar... tão simples ao acontecer, e tão agonizante como tentar gritar num sonho embaixo d'água (me resgata!), e se afogar.